Entrevista a Alex Griffiths
25/09/2019

Entrevista a Alex Griffiths

GERENTE DE EXPORTAÇÕES DA BODEGA GARZÓN.

  1. Conte um pouco sobre sua história e qual foi seu vínculo com o setor vitivinícola antes de chegar na Bodega Garzón.

Eu sou uruguaio, morei 16 anos no Chile e há três anos voltei para o Uruguai para fazer parte da equipe da Bodega Garzón. Minha história com a indústria vitivinícola começou no Chile onde trabalhei vários anos na equipe de exportações de Concha y Toro. Foi uma enorme experiência, aprendi muito sobre a indústria, as dificuldades que possui e a importância de estar nos mercados. O vinho sempre foi um hobby e um prazer que desfrutei junto a minha família, porém nunca pensei que ia me dar tanto.

  1. Como e quando chegou a proposta para trabalhar na vinícola?

A proposta chegou em setembro do ano de 2016. Tive muita sorte porque o processo de seleção para Gerente de Exportações incluiu a Argentina e o Chile. Foi por acaso porque imagino que eles nunca esperaram encontrar um uruguaio trabalhando na indústria no estrangeiro e isso com certeza me ajudou pois quase não houve período de adaptação. Eu sempre tive vontade de voltar para o Uruguai, mas não pensei que eu poderia retornar tão cedo nem nesta indústria que eu gosto tanto.

  1. Quais são os principais mercados onde a Bodega Garzón atualmente tem presença?

O maior mercado continua sendo o Uruguai, mas seguem de perto o Brasil e os EUA onde o potencial é enorme e ainda há muito para fazer. Outros mercados muito importantes são os países nórdicos (principalmente a Suécia), o Reino Unido, o Japão, a Holanda e o Canadá. Atualmente as exportações equivalem a cerca de 75% de nossa venda de vinho e temos distribuição em mais de 35 países (5 continentes).

  1. Como você viu a evolução da vinícola no mercado internacional?

A evolução tem sido muito rápida, sinceramente muito mais rápida do que imaginei no início quando eu aceitei o desafio. A marca se posicionou como referência de qualidade a nível mundial e com um conceito muito premium que ajuda muito na venda. É incrível, mas os vinhos realmente competem lado a lado com qualquer um, a pesar de ser um vinhedo extremamente jovem, só vai melhorar. Acredito que essa rápida consolidação é produto de diferentes variáveis, algumas controláveis e outras casuais. Uma inegável é a qualidade dos vinhos que são produto do excelente terroir privilegiado que temos em Garzón e da equipe técnica que tem feito um trabalho impressionante expressando a fruta que obtemos do campo. Porém acredito que devemos muito ao momento exato em que se desenvolveu este projeto, atualmente existe uma “moda” por provar vinhos de origens desconhecidas e variedades atípicas.

  1. Como é valorizado o vinho uruguaio nesses mercados?

O vinho uruguaio é quase desconhecido no mundo, é um produto totalmente de nicho (deixando o Brasil de lado). Isso apresenta um desafio enorme e também uma grande oportunidade, dependendo de como você olhar. Para nós é a possibilidade de posicionar uma origem nova no cenário vitivinícola global e oferecer um produto que até agora não tinha demanda por desconhecimento. A Bodega Garzón é líder indiscutível na exportação de vinho uruguaio, porém isso tem um impacto positivo para toda a indústria. Muitas portas foram abertas para outros produtores e isso é muito bom. Para fortalecer a categoria é preciso que vários produtores ofereçam produtos com altos padrões de qualidade e com um estilo de vinho fresco, elegante e com muita fruta. Tem que proporcionar aos consumidores opções para escolher, mas sempre oferecendo qualidade e alinhados à proposta. Estamos em uma fase inicial deste posicionamento portanto é extremamente importante que todos os produtores sejam responsáveis com os produtos que oferecem.

  1. Quais são os destinos para os quais você viaja mais durante o ano? Como é organizar o trabalho nesse ritmo de viagens?

Os últimos três anos eu viajei entre 130 e 160 dias por ano, o que é muito, mas totalmente necessário pois é muito importante estar nos mercados. Nós falamos de “sair para a rua”, mas simplesmente significa estar empurrando as vendas, colocando um rosto atrás da marca e proporcionando a toda a cadeia de distribuição ferramentas para ajudá-los a vender mais de nossos produtos. As tarefas são muito variadas; em alguns casos visitar todos os clientes apresentando os vinhos, falar com meios de imprensa, reuniões com monopólios estatais, treinamentos para vendedores, negociações com importadores, etc.

Os mercados que eu mais visito são os EUA, o México, o Reino Unido, a Holanda e outros países europeus.

Os primeiros anos também incluía a Ásia, mas devido ao potencial que existe e a alta demanda de tempo que precisa agora temos uma pessoa morando em Hong Kong que dirige tudo de lá.

É difícil a organização entre tantas viagens e mercados em diferentes fusos horários, mas com ordem se consegue. Os horários de trabalho são um desafio e é preciso ser flexível para manter uma boa comunicação com os clientes pois quase sempre tem alguém trabalhando.

  1. Quais são as cidades que você conheceu, o que você recomendaria ou o que não se pode deixar de conhecer?

O mundo está cheio de cidades incríveis e autênticas, é difícil escolher, mas selecionando cidades diferentes entre si acredito que: Hong Kong, Sidney, Jerusalém, Cidade do Cabo, Amsterdã, Londres, Estocolmo, São Petersburgo, Nova Iorque, Vancouver e São Francisco.

  1. Como foram recebidos os vinhos da Bodega Garzón nos Estados Unidos? Que crescimento vem tendo nesse mercado?

Os Estados Unidos é um dos mercados onde estamos vendo maior crescimento (triplicamos nos últimos 3 anos) e com certeza possui um potencial de desenvolvimento muito interessante. É o maior importador de vinho do mundo (além de sua produção doméstica) e a Bodega Garzón teve uma aceitação incrível da comunidade de sommeliers e os meios de imprensa especializados. O turismo de luxo em José Ignacio e Pueblo Garzón de norte-americanos influentes tem ajudado muito a espalhar a notícia sobre o projeto. Também tivemos várias cadeias de restaurantes (como Morton’s ou Fogo de Chão) que têm incluído os nossos vinhos em todos os seus restaurantes a nível nacional e isso ajuda bastante para obter distribuição em todos os Estados. É preciso levar em conta que é um mercado muito complexo de trabalhar por seu sistema de três níveis (único no mundo) e também pela concorrência pois quase todos os produtores querem estar presentes.

  1. Como está evoluindo o mercado de Reino Unido?

O mercado está em um momento muito difícil dado que existem muitas incertezas pelo Brexit. Ninguém sabe exatamente como e quanto vai afetar, portanto o mercado está tentando se preparar administrando altos níveis de estoque. Tem que esperar para ver o que acontece, porém é provável a libra se desvalorizar e o comércio se estagnar um pouco. Se não houver um acordo de saída com a União Europeia, poderiam surgir mais oportunidades para acordos comerciais com países como o Uruguai.

  1. Como foi a chegada no mercado asiático e como você vê a evolução do consumo de vinhos nessa região?

Dizem que o mercado asiático é o futuro da indústria já que o consumo de vinho continua sendo praticamente nulo, mas está crescendo muito. Devido ao tamanho da população e o crescimento de suas economias o potencial deste mercado é infinito. É claro que existem mercados mais desenvolvidos que outros, por exemplo Singapura, Hong Kong e Tóquio onde a indústria está mais madura. Por outro lado, na China, na Índia, no Vietnã e em Filipinas ainda tudo resta a ser feito. Temos visto um interesse dos consumidores de aprender sobre o assunto e isso tem impactado forte na demanda. O vinho por fazer parte importante das culturas de ocidente também possui uma carga social e um prestigio que faz dele um produto desejado para os asiáticos.

A Ásia é uma região muito demandante onde é preciso investir muito tempo e onde as relações se trabalham face a face. Por causa disso se uniu à equipe de exportação – Giancarlo Marinello – que está morando em Hong Kong e desenvolvendo esses mercados, é um processo lento, mas é preciso ter paciência porque o potencial é muito grande.

  1. Quais são os principais atributos da Bodega Garzón distinguidos no mundo?

Alguns atributos em destaque são a acidez natural e o frescor dos vinhos que obtemos neste lugar privilegiado com influência marinha que nos permite ter um clima mais frio. Também salientam muito o equilíbrio entre a fruta e a estrutura dos vinhos, isso faz eles muito fáceis de beber e desfrutar. Algo que sempre chama a atenção é a filosofia da mínima intervenção na elaboração dos vinhos (deixar a uva se manifestar) e a sustentabilidade do projeto (é a primeira vinícola do mundo em obter a certificação LEED) que cada vez é mais importante no mundo em que vivemos.

  1. Como você imagina a vinícola em 10 anos?

É difícil pensar nisso porque a Bodega Garzón tem apenas 10 anos (desde que começaram a plantar os primeiros vinhedos) é isso no mundo do vinho não é nada, porém já tem conseguido fazer história não apenas para a categoria de vinhos uruguaios, mas também para qualquer projeto vitivinícola do mundo. Na jovem vida desse projeto já foram obtidos prêmios e reconhecimentos nos melhores concursos do mundo (muitos por primeira vez para o Uruguai como New World Winery of the Year – Wine Enthusiast). Também tem despertado o interesse de especialistas por todo o mundo como uma origem praticamente inexplorada que entrega uma qualidade muito alta. Ainda a ser descoberto até onde vai chegar pois o vinhedo com o tempo só vai melhorar sua fruta.

Não há dúvidas que a Bodega Garzón em 10 anos vai ser referência de qualidade e inovação a nível mundial, será atribuído o desenvolvimento de uma zona vitivinícola (Maldonado) que vai dar muito o que falar e vai ser a marca mais reconhecida de uma categoria (vinho uruguaio) que vai ser muito maior no cenário global.

O desenvolvimento e a consolidação da Bodega Garzón têm sido tão rápidos que não é de se estranhar que em 10 anos seja considerada entre as melhores vinícolas do mundo.

 

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